O tenente-coronel Mauro Cid relatou em uma conversa que não teria falado a palavra “golpe” na delação premiada que fechou com as autoridades dentro da investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado durante o último ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com uma apuração da revista Veja publicada nesta quarta (29), Cid relatou em uma conversa com um interlocutor desconhecido que a palavra “golpe” teria sido inserida nos autos da delação pela Polícia Federal. A reportagem traz o trecho do áudio em que ele teria negado a citação e que teria ocorrido no ano passado.
“Vou te dizer… Esse troço tá entalado, cara. Tá entalado. Você viu que o cara botou a palavra golpe, cara? Eu não falei uma vez a palavra golpe, eu não falei uma vez a palavra golpe! Então, quer dizer… Foi furo, foi erro, sei lá, acho até a condição psicológica que eu tava na hora ali [do depoimento]. P… Eu não falei golpe uma vez. Não falei golpe uma vez”, diz Cid na gravação.
A Gazeta do Povo procurou a Polícia Federal para se pronunciar sobre o áudio vazado e as afirmações de Cid e aguarda retorno.
“Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele. É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam ‘olha, a sua colaboração tá muito boa’”, disse na época.
Cid ainda citou que o ministro Alexandre de Moras, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), já tem uma “sentença pronta”, e que estaria esperando o momento certo para prender “todo mundo”. “Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, completou.
Este trecho da delação também aponta a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) apoiavam a iniciativa.
A delação de Mauro Cid foi homologada em setembro de 2023 e segue sob sigilo, e incluiu acusações contra nove dos 40 investigados pela Polícia Federal. Ao todo, Cid cita pelo menos duas dezenas de nomes, mas a maioria não está entre os investigados.